A expressão “tudo acaba em pizza” foi criada pelo jornalista Milton Peruzzi para uma matéria publicada na Gazeta Esportiva. Reza a lenda que, nos anos 60, os dirigentes de um time de futebol paulistano se reuniram por mais de 14 horas para decidirem o futuro da esquadra.
Na ocasião foram consumidas 18 pizzas gigantes, que saciaram o apetite dos dirigentes após um longo período reunido. No dia seguinte o jornalista publicou seu artigo com o seguinte título: “Crise do Palmeiras termina em pizza.” Após essa matéria, o jornalista passou a utilizar a expressão em outras reportagens, e transformou a expressão no sinônimo de “acabar bem”.
Mas se estamos falando em pizzas, propriamente dito, é difícil saber em qual terminará, pois são vários estilos possíveis: clássica, napoletana, romana, in pala, in teglia, al taglio… No entanto, a origem da pizza como conhecemos hoje teve início em Nápoles.
È vero que a pizza napolitana tem sido a mais difundida. E esse estilo de pizza vai além de uma forma de preparo, ou de uma receita. É um conceito, a ponto de se tornar Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, divisão da ONU para Educação, Ciência e Cultura.
A eleição da pizza napolitana como patrimônio imaterial ganhou força através de uma petição mundial, lançada em 2016, e assinada por cerca de dois milhões de pessoas. Dentre as justificativas para sua candidatura à lista da UNESCO, está a sua importância como identidade cultural e, também, para a economia local.
Buscando promover e, principalmente, proteger a pizza napolitana como um produto típico italiano foi fundada em 1984, em Nápoles, uma associação sem fins lucrativos: a Associazione Verace Pizza Napoletana.
Como consultor, e amante da pizza, percebo um crescimento por esse estilo de pizza aqui no Brasil. A cada dia pizzarias são abertas com a mesma proposta: servir pizzas individuais, para serem saboreadas de forma única, inclusive, comendo com as mãos. Os cardápios são enxutos com poucas opções e produção diária é limitada.
O maestro pizzaiolo Luca di Massa, meu mentor em pizza napolitana, me falou uma vez que é preciso conoscere per riconoscere la pizza napoletana. E é verdade, é importante conhecê-la para poder confeccioná-la respeitando a tradição. Afinal, é um modo de preparo que tem registro datado em 1780. As pizzas Mastunicola, Marinarae a famosa Margherita são bons exemplos.
Quando fiz uma imersão na pizzaria do Luca, na Itália, pude perceber que preparar a massa para esse estilo de pizza vai além da receita, o próprio maestro me dizia a todo o momento que era importante, antes de tudo, senti-la. Confesso que demorei a entender sua mensagem, mas vivenciar essa experiência me fez enxergar a pizza napolitana de outra maneira.
Para quem for abrir um estabelecimento comercial não basta apenas colocar no letreiro “pizza napoletana”. É preciso, sim, respirar e respeitar a tradição, afinal nós brasileiros nos formamos pizzaiolos, mas eles, os napolitanos, nascem pizzaiolos.